Valdeck Almeida de Jesus
O poeta da verdade!
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Festa literária. Existe um modelo ideal?

Na Bahia, no Brasil, ultimamente tem surgido várias formas de festas literárias, festivais literários, festivais de literatura, e uma pergunta fica no ar. Qual o modelo ideal? Qual a forma mais adequada de se realizar um encontro, um evento de leitores, escritores, vendedores de livros, etc?

 

O financiamento público, através de editais, agora já é uma realidade mais democrática, mais capilarizada pelo Estado da Bahia inteiro. Mesmo assim, a pergunta continua, qual o modelo de festa, qual o mais adequado? Essa resposta talvez fique rolando para que cada organizador, cada proponente possa ir se reinventando, se adaptando, encontrando saídas, encontrando entradas, encontrando uma maneira de realizar o encontro de uma forma mais produtiva, mais democrática, mais diversificada possível.

 

Em cada região da Bahia tem suas peculiaridades, sua história, suas relações afetivas com o lugar, o desejo de troca, de intercâmbio, de conhecer outras regiões e de atrair pessoas de outras partes do estado e também de fora dele, mas uma coisa fica patente, o modelo tradicional que trazia estrelas para serem pensadas para atrair público, que nem sempre era o público para o livro, para a leitura e para o afeto local parece ter cansado e deve estar passando agora para uma nova fase.

 

As festas e feiras literárias que têm se mantido com apoio de editais, de Estado, de governo federal, de municípios, através de emendas parlamentares e patrocínio privado, parceria com a comunidade, com outros órgãos do estado parece ser o caminho mais acertado. Principalmente nas festas literárias de cidades menores, onde a população está mais próxima dos governantes, onde se conhece os gestores, gestoras, pessoas envolvidas com educação, com cultura, com arte e até integrantes de assembleias, de câmaras de vereadores, prefeitos eleitos, etc. têm apresentado uma nova proposta e se firmado bastante por olhar para a comunidade, para as culturas da comunidade.

 

Esta forma de fazer tem se firmado por estar atenta às reivindicações dos correligionários e à repercussão que o encontro literário promove, como evento, portanto, eventual, que acontece uma vez ao ano, quando acontece, mas que precisa reverberar durante o ano inteiro, nas atividades culturais e educacionais, como projeto de promoção da cidadania.

 

O foco de eventos de sucesso não precisa ser, apenas, no momento da culminância. Precisa repercutir no cotidiano de professores, pesquisadores, coordenadores pedagógicos, gestores da cultura, pessoas de outras áreas de conhecimento, para troca de informações, potencializar a aplicação do dinheiro público; repercutir no dia a dia da comunidade, envolvendo artesanatos, hortas comunitárias, produção cultural ligada à fotografia, teatro, dança, artes plásticas, áudio visual, e em todas as artes conectadas e unidas num só propósito: o de promover a cidadania, promover a consciência social, cultural, política e cidadã das pessoas envolvidas.

 

Ainda há, claro, necessidade de convidar estrelas e pessoas de fora do município, de fora do Estado, ou até de fora do Brasil, sim, porque as trocas sempre são importantes, e é nos encontros de diferentes que se percebe a importância de se valorizar o que se tem localmente, e a perceber que a cultura local, a riqueza do lugar pode se enriquecer com a cultura de quem chega, e vice-versa.

 

Mas o trabalho do dia a dia da cultura local, muitas vezes, ou quase sempre, não precisa de interferência externa, precisa de intercâmbio sim, mas não sobrevive disso, porque as estrelas passam, as estrelas visitam a cidade uma vez ao ano - e olhe lá -, e vão embora e muitas vezes não voltam mais. E o cerne da questão é como ficam os autores, as autoras, contadores de histórias, historiadores, fotógrafos, atores, atrizes, dançarinos, artistas diversos, depois que a feira termina e as estrelas se vão? Esta é a pergunta que tem movido e remodelado feiras e festas literárias na Bahia.

 

E muitas dessas feiras têm obtido o êxito e se mantido porque, depois que o povo local entende que está inserido e que o evento é catalizador para o desenvolvimento, abraça, literalmente, o encontro cultural. E a partir daí, não importa se a festa acontece no meio da feira, dentro de uma câmara de vereadores, no meio da rua, na praça, no cortejo público, com chuva ou com sol. E todos se juntam: quem faz bolinhos, quem faz crochê, quem faz tranças, quem faz esteiras, balaios, quem faz adobo para casa, oleiros, oleiras, catadores, marisqueiros, advogados, médicos, mestres, doutores, pessoas de todas as idades, do centro e das periferias.

 

Essa alternativa se torna irreversível, porque feira e festa, feira livre, feira de feijão, feira de farinha, feira de livro, feira de cultura, feira de afeto, atrai abelhas para o jardim, e essas abelhas/pessoas criam, produzem, cuidam da colmeia, porque todos entendem que a cultura é o alimento diário e que a feira, a festa, o festival é apenas um encontro para celebrar, para fotografar, para guardar na memória. Mas que precisa e pode passar a fazer parte do cotidiano: acontecer na hora que a dona de casa levanta para fazer o café, preparar o cuscuz, fritar o ovo, cozinhar o inhame, pôr na mesa e celebrar o dom da vida, porque cultura é vida. E vida sem cultura é ditadura. De parabéns a Festa Literária de São José do Jacuípe, a Flizé, na sua terceira edição, fazendo o melhor que pode e além para o seu povo, para os artistas e para as pessoas em geral.

 

 

Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 01/08/2025
Alterado em 01/08/2025
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