Valdeck Almeida de Jesus
O poeta da verdade!
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Ensaio sobre como virar onça

 
A Fundação Cultural do Estado da Bahia promoveu, em 2012, através da Coordenação de Literatura, tendo à frente Milena Brito, um projeto chamado “Ação Poética nas Comunidades”, para a qual eu fui um dos convidados e, por minha vez, chamei os colegas do Fala Escritor para irem comigo recitar poemas. Lá, dentre outros e outras poetas como Kátia Borges, Mariana Paiva, Fábio Haendel e Nilson Galvão, do Prosa e Poesia, conheci Sandro Sussuarana. Ele estava representando o coletivo Sarau da Onça, do bairro Sussuarana, com uma mesinha de camisetas e outros materiais de divulgação, inclusive uma camisa com a imagem de Anastácia amordaçada. Comprei uma e iniciei uma amizade com Sandro. Mantemos contato e na apresentação seguinte da Funceb em Alagados, no Centro Cultural, estava eu de novo no evento, na plateia, e reencontro Sandro. Depois, o reencontrei, com o grupo completo, em uma apresentação que fizeram na praia de Boa Viagem, numa ação poética e de cunho ambiental, em que a galera recolheu lixo reciclável e recitou poemas.
 
Fala Escritor – Saraiva
Sou um dos coordenadores do Projeto Fala Escritor, fundado por Leandro de Assis em 08 de agosto de 2009, para cuja reunião de fundação fui convidado e permaneço ainda na equipe. A gente se apresenta na Livraria Saraiva, inicialmente revezávamos entre os Shoppings Salvador e o Iguatemi (atual Shopping da Bahia). Atualmente as edições estão concentradas no Shopping da Bahia. Na coordenação atual estão eu, Carlos Souza, Luiz Menezes de Miranda e Jorge Baptista Carrano. O Sarau da Onça, por ser um coletivo atuante e com o qual esta equipe tem vários contatos, acabou sendo convidado tanto para assistir as apresentações como, também, fazer participações especiais no projeto, sendo, sempre, muito bem vindo e aplaudido. Esta parceria só fortalece tanto a amizade entre as pessoas dos dois coletivos, como, também, engrossa o caldo da poesia contemporânea de Salvador.
 
Uma das frases que eu ouvia de uma amiga, no Fala Escritor, é que a poesia estava morrendo, pois só interessava aos velhos e que os velhos estavam morrendo, e com eles a poesia. De certa forma era verdade. Nos lugares aonde eu ia só tinha pessoas com cara de cansaço, sem ânimo para uma leitura mais positiva, meio desanimadas da vida. Eu passei a procurar outras paragens, ouvir novas falas e ver novos rostos. No Sarau da Onça, depois que o conheci, eu sempre via energia renovada, sempre saí com a alma lavada, a euforia da galera me contagiando. Aos finais de cada noite de poesia, meninos, meninas, rapazes e moças se abraçavam, confraternizando, celebrando a magia, o sonho, os momentos de êxtase proporcionados pelas palavras. Ali, percebi que a poesia renascia a cada momento, em cada rima quebrada, poesia de quebrada. E fui me viciando, e invejando os carinhos, os toques... até que me tornei um visitante assíduo e fui ficando, ficando, até me sentir parte, pois fui acolhido.
 
Dentre outros encontros, participei de uma mesa de debate sobre jornalismo, junto com outros ativistas culturais, dentre eles o amigo DJ Branco. Eu e o Sarau da Onça, e, também, o Grupo Ágape, temos nos encontrado em momentos diversos como no Caruru dos Sete Poetas, promovido por João Vanderlei de Morais Filho, em Cachoeira-BA. Sempre bons encontros, em que a poesia prevalece, o riso, a alegria e a afetividade. Falar desses coletivos é falar em Família Poesia. Outros momentos de reuniões aconteceram em eventos poéticos realizados pela Escola de Arquitetura da UFBA e tantos outros espaços em que a arte da palavra reina absoluta.
 
No Cenpah, antes e durante o sarau, sempre tinha uma mesinha vendendo banana real e outras iguarias, com copos de refrigerante, onde eu colava para matar a fome de comida, antes de saciar minha alma de poesia... Ali, no sarau, conheci pessoas maravilhosas. Uma delas é Patrick Lima, um menino de energia pra lá de positiva, sempre sorridente, ágil, não fica quieto, conhece a galera toda, parece um relâmpago: quando pensamos que está num lugar, já correu o evento inteiro... Outro, de olhos de onça, é o rapper Erick Sena. Outro queridíssimo, Jones Miranda, de um sorriso cativante, carinhoso, amigo, brincalhão, trabalhador... Brenda Gomes, sempre atenta a todos os bastidores e no suporte de divulgação, Indemar Nascimento que faz o maior sucesso com seu rap de corpo e alma, Mateus Paim e seu voz e violão... Tem mais: Gueto A, formado por Evanilson, William, Sandro... O Opanijé com música de arrepiar, Diamantes da Valsa que tem uma beleza estonteante, The Fabulous que arrasa-lacra-fecha e emociona, Dazone cantando e conquistando corações... Teresa Cristina na plateia atenta a cada detalhe... Ludy Borges, direto das Cajazeiras, sempre está não só no Sarau da Onça, como em tantos outros lugares onde a poesia reina. Danilo Lisboa, amigo de Impacto Mental, tem um irmão que se envolveu com drogas. A luta de Danilo para salvar o irmão é comovente. Eu chorei quando ouvi o relato do mano dele. Naquele dia, li um poema meu que falava do tema. Impacto Mental é Lázaro. Sempre dou carona a ele, de Sussuarana para o ponto do Extra da Paralela, onde ele desce, atravessa a passarela e pega o buzão que lhe deixa na entrada do Bairro da Paz, onde mora... Giovane Sobrevivente é outro guerreiro, que eu já conhecia do Fala Escritor. Em Sussuarana passei a conhecer melhor o trabalho dele, muito admirado pelos meninos e meninas do bairro.
 
Participei de várias atividades promovidas pelo Sarau da Onça. Dentre elas duas Caminhadas Contra a Violência e Extermínio de Negros, no bairro Sussuarana. Sempre tirei muitas fotos e postei nas redes sociais. Numa dessas caminhada, comi salgadinho do pacote que William Silva comia. Intimidade, aos poucos, com a galera. Num dos saraus, Larissa Oliveira tomou um pouco do meu refri, no mesmo copo em que eu bebia. Bota intimidade nisso... Na segunda caminhada, Alaíde falou comigo “ainda bem que você chegou... eu estava preocupada com quem iria tirar as fotos oficiais da caminhada...”. Fiquei muito feliz... Tive o prazer de ir a uma reunião para preparar o Regimento Interno do Sarau da Onça, para a qual convidei Renata Rimet e demos nossa contribuição. Fui jurado em duas ocasiões, uma no Slam da Onça, em que Carol Xavier foi vencedora, e recebeu meu convite para entra no livro do Prêmio Galinha Pulando 2014 com o poema vencedor. Sandro Sussuarana já havia participado de uma edição do prêmio literário, com dois textos. Em 2014, outro morador do bairro, o energético Patrick Lima também teve a mesma sorte. E os laços vão se fortalecendo... Fui à casa de uma amiga de Sandro, na Vasco da Gama, participar de um almoço regado a vinho. Hummmm... E comi um caruru maravilhoso, com minha irmã Valdecy, na casa de Alaíde, no final de 2014. E no início do ano, fui à confirmação de santo do esposo de Alaíde, em Tancredo Neves, onde comi mais caruru, junto com meu amigo Robson Dy Correa. Nesse dia voltei ao Novo Horizonte, com Lissandra Pedreira, para pegar a bateria da câmara fotográfica na casa dela.
 
Bienal do Livro da Bahia 2013 – A União Baiana de Escritores – UBESC, sob a presidência de Roberto Leal, tendo em seus quadros eu como Diretor de Eventos, e, então, Luiz Menezes e Jorge Carrano, foi uma das entidades culturais e literárias que participou da bienal do livro, a convite da Fundação Pedro Calmon - FPC e Diretoria do Livro e da Leitura – DLL. Na direção da FPC, Fátima Fróes e, na DLL, João Vanderlei de Morais Filho. Time de aficionados por cultura. O estande da Ubesc ficou numa área nobre com várias editoras baianas ao redor e um espaço que usamos para saraus, bate papos, encontros. O Sarau da Onça e o Grupo Ágape, claro, não podiam faltar e, com esforços do coletivo Fala Escritor, a poesia criou asas e o arrastão poético invadiu a bienal, para honra e glória da arte da palavra. Além desse espaço privilegiado, o grupo também atuou no estande da Secretaria de Cultura da Bahia – Secult, com recital, roda de conversa e muita alegria poética. Foi um dos momentos mais marcantes da festa dos livros. Outra apresentação, desta vez do Ágape no Espaço Cultural da Barroquinha, aconteceu em 2014, com William Silva, Joyce Melo, Lane Silva, Evanilson Alves e dois poetas do Fala Escritor: Bruno Mariston e Michele Saimon. Foram dias de “costura” para o evento acontecer, no lançamento do Selo João Ubaldo de Literatura, realizado pela Fundação Gregório de Matos e Prefeitura Municipal de Salvador, a primeira sob a presidência de Fernando Guerreiro e, a segunda, pelo prefeito ACM Neto. Os aplausos não foram poucos, e os meninos e meninas ficaram muito felizes e, óbvio, eu e Jorge Carrano. Nos ensaios, nas conversas de camarim, enfim, nos bastidores, conheci um pouco mais dessa família. No dia da apresentação eu levei a galera de volta pra Sussuarana. Antes, porém, houve uma conversa para saber quem iria e quem ficaria, porque o carro só cabia quatro pessoas e havia seis para serem transportados. Michele Saimon e Bruno Mariston resolveram ir de ônibus. O argumento da onça foi, na boca de William “somos uma família e se um não pode ir, todos ficam”... até hoje me arrepia e meu nariz arde quando lembro disso. Grupo Ágape é emoção, seja perto ou seja longe. É disso que estou falando, é sim!
 
Editais. Conversa vai, conversa vem, eu e Sandro acabamos montando um projeto para apresentar ao Calendário das Artes. Na verdade Sandro já tinha um projeto escrito e eu dei umas ideias. Inscrição feita, o coletivo foi selecionado, mas Sandro se equivocou na entrega de documentos e foi desclassificado. Fiquei muito triste e com raiva, mas depois a raiva passou (risos) e ficou um pouco de culpa de não ter acompanhado o processo até o final, o que, talvez, evitaria a falha na entrega da documentação. Ficou para outra oportunidade. Aí veio o Arte em Toda Parte, da Fundação Gregório de Matos. Graças a Deus. Sandro correu atrás de tudo o que pôde, teve ajuda de outras pessoas para elaborar o projeto, eu fiquei como assistente e responsável pela comunicação. Tudo certo, foi realizado o I Festival de Arte e Cultura do Sarau da Onça, com um concurso que resultou em lançamento de livro de poemas, oficinas de Grafite com Zezé Olukemi, dança, teatro, cordel (Sérgio Bahialista), dentre outras atividades. Rolou até um feijão que estava delicioso. Família unida é assim. Tudo vira festa, mesmo depois de percalços, que são normais no percurso de qualquer grupo. O livro, “Poesias quebradas de quebrada. O Diferencial da Favela” (capa de Zezé Olukemi), lançado em Sussuarana e em outras paragens, foi, também, para a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em agosto de 2014, com lançamento no estande da União Baiana de Escritores – UBE. Sandro e Evanilson no comando, fizeram até participação com recital no estande. A dupla, acompanhada de Alaíde Santana, percorreu a periferia e o centro de São Paulo e participou de várias atividades, sob o comando de Vinícius Almeida. Do Centro Cultural da Penha ao CEU Tiquati, Caminhada Nacional contra o Extermínio de Negros na Avenida Paulista, tudo foi muito lindo. Na caminhada, encontramos o rapper GOG, o escritor Alan da Rosa (meu professor em uma oficina literária em Salvador) e mais outras autoridades da palavra.
 
Outro edital que não deu certo foi o Edital de Manutenção de Grupos, da Fundação Cultural do Estado da Bahia, por conta de limitações no site de inscrições que não permitiu a inclusão do orçamento de dois anos. Por conta disso, o coletivo foi desclassificado. Mas a lição ficou e o preparo de novo projeto vai ser realizado.
 
Festa Literária Internacional da Chapada Diamantina – Flich setembro 2014
A convite de Sandro Sussuarana, fui a Lençóis participar da Flich. Ele era convidado do evento para falar sobre literatura e periferia, em mesa mediada por Luciana Moreno, composta, ainda, por Fábio Mandingo, Sérgio Vaz e Zezé Olukemi. Levei o telefone de contato de uma pessoa que iria abrir a escola onde o grupo ficaria hospedado. Ao chegar em Lençóis eu fui o primeiro a encontrar o vigilante da Escola Horácio de Matos e falar ao telefone com a diretora da mesma. Fiquei com as chaves e, daí por diante, de convidado passei a ciceronear, receber os visitantes (risos). Maiara Silva e Evanilson Alves foram comigo de carro. Depois chegaram Sandro Sussuarana, Zezé Olukemi, Fábio Mandingo e Lissandra Pedreira. A maioria tinha hotel reservado. Sandro também, mas preferiu ficar na muvuca comigo, Maiara, Lissandra e Evanilson. Foram dias e noites de alegria, descontração, autoconhecimento. Ali, dividimos intimidades, um chuveirão no quintal para tomar banho ao ar livre, o café da manhã, lençóis, literalmente, escovas de dente etc. As noites da cidade nos inspiraram a todos e todas, comemos e bebemos em barzinhos, restaurantes, fizemos resenha, tomamos banho de rio, rimos muito e fomos bastante felizes... Poucos dias que duraram uma eternidade e ficaram na lembrança. Durante a festa literária, meu carro quebrou o cabo de embreagem. A pessoa que eu achava que não ia muito com minha cara foi a primeira a sair em busca de socorro. Tivemos que esperar mais um dia na cidade, para consertar o carro. Mas tudo valeu a pena, pois a alma era imensa. Lissandra, a partir dali, passou a ser mais uma referência pra mim, joguei fora a má impressão e agora é minha irmã. Confessei isso na edição de aniversário de quatro anos do Sarau da Onça. Acho que as verdades devem ser ditas, mesmo as boas e as que nos fazem um ser humano melhor.
 
Parada do Livro, da Leitura e da Biblioteca – PMLLB outubro 2014. Eu estou Conselheiro do PMLLB de Salvador e uma das atividades realizadas pelo coletivo foi a 1ª Parada do Livro da cidade. Eu fiquei responsável pela Tenda dos Escritores, para a qual foram convidados cordelistas, professores de literatura, tradutores, poetas, contadores de história, declamadores e artistas da palavra. Claro, o Sarau da Onça e o Grupo Ágape não podiam faltar. No meio do caminho, o coletivo Resistência Poética se apresentou também, com Lane Silva, Drica Silva e outros poetas. O Ágape/Onça estava presente com Evanilson Alves, Sandro Sussuarana, Maiara Silva e Joyce Lima. Foi sucesso total e ficou o agradecimento, de coração, a esses guerreiros e guerreiras que não fogem ao chamado, venha de onde vier, em respeito à poesia.
 
Tudo Nosso e Nada Deles. No carnaval 2015 o cantor Igor Canário fez sucesso com uma música com esse título. Não faltaram comentários contra e a favor nas redes sociais. Uma citação de Alaíde Santana me chamou a atenção e, logo em seguida, fiz um cordel intitulado Reino de Sussuarana:
 
Reino de Sussuarana – Tudo Nosso e Nada Deles
Por: Valdeck Almeida de Jesus
 
Aqui tem reis e rainhas
Aqui são todos iguais
Lutando por mais respeito
Sejam filhos ou sejam pais
Pra respeitar descendentes
E também aos ancestrais.
 
A luta de todos é contra
Essa tal de violência
E também contra racismo
Que destrói a inocência
Mas a paz vai ser de todos
Que esperar com paciência.
 
A paz reinará pra todos
Seja branco ou seja negro
A riqueza dividida
Será menos desapego
E a justiça social
Será o nosso sossego!
 
Tudo nosso e nada deles
É o lema da favela
Só queremos o que é nosso
Pra fazer nossa novela
Nossa força é nossa gente
Nos apegamos a ela.
 
Nossa cor é nossa marca
Nosso sangue é real
Descendentes da nobreza
Da linda África natal
Nós somos reis e rainhas
Somos um povo legal.
 
Somos do Reino da Onça
Sussuarana no nome
Todos nós somos guerreiros
Seja mulher ou seja homem
Temos sede de justiça
De respeito temos fome.
 
Valorizamos raízes
Respeito e diversidade
Cada um é especial
Não importando a idade
Nosso lema é social
E é solidariedade.
 
Se mexer com um dos nossos
Mexeu com a família inteira
Mesmo sendo diferentes
Temos a mesma bandeira
Se quiser nos conquistar
Chegue sem muita besteira.
 
Príncipe do Gueto é meu povo
Seja branco ou seja preto
E cada um da favela
Que exige e pede respeito
Pois é gente de valor
E leva a vida no peito.
 
Tem valor quem valoriza
E vive a vida lutando
Pra quebrar o preconceito
E a cada um respeitando
Com dança, rap e poesia
Um leão por dia matando.
 
Tem respeito quem batalha
E que vai sobrevivendo
Contra todas as apostas
Mesmo de dores sofrendo
Derrubando as barreiras
Quebrando qualquer remendo.
 
Esse povo sobrevive
Vive a vida no trabalho
Vai a pé ou de carona
E fazendo seu atalho
Se não acha emprego fixo
Se vira num quebra galho.
 
No gueto tem bom exemplo
E posso citar alguns
Tem Sandro Sussuarana
Que comendo ou em jejum
Trabalha como um trator
São vários homens em um.
 
Dorme tarde e acorda cedo
Pra no batente pegar
E depois na faculdade
Estudando pra danar
Dificuldades encontra
Mas ele não quer parar.
 
Da vida faz poesia
Do choro faz u’a risada
Não se vê Sandro chorando
E nem com cara amarrada
Muito menos lamentando
Da sua grande jornada.
 
Evanilson é outro exemplo
De menino se fez homem
O que mais lhe atormenta
Eu lhe digo, grave o nome
Esse cabra vai matar
De muita gente a fome.
 
A fome de poesia
Essa fome que alimenta
Pois do nada ele faz
Um poema ele inventa
E depois sai umas músicas
Que a tudo movimenta.
 
Salva vida com palavra
Salva jovem e salva adulto
Gente do gueto ou do centro
Não deixa cair em luto
Pra curar uma tristeza
Evanilson é absoluto.
 
William e a Lane Silva
É a dupla de irmãos
Um fala e o outro completa
Rima sim e rima não
Poesia é o nome deles
E ambos se dão as mãos.
 
Maiara Silva e Mateus
São gêmeos do coração
Dois grandes e bons poetas
Mais que amigos, irmãos
Se ela não para quieta
Ele lhe dá um puxão.
 
Gleise Silva é caladinha
Mas esconde um talento
Controla o grande Evanilson
O ama a todo momento
Um é a poesia do outro
Nossa, quanto sentimento!
 
Carol Xavier é um dengo
Um amor de formosura
O coração sobe na boca
Que lhe causa mui ternura
Emoção forte a derruba
Esse poço de fofura.
 
A Larissa Oliveira
Tem talento e é sapeca
É toda uma princesinha
Mais parece uma boneca
Como todas as amigas
Ela nunca fica quieta.
 
Tem moço novo no grupo
Mais parece um menino
Alegria é seu nome
Educado e muito fino
Já adivinhou o seu nome?
É o Bruno Cupertino.
 
O Sérgio Bahialista
É o mestre da galera
Um exímio cordelista
No violão se esmera
Professor e pedagogo
Na aula ele é uma fera.
 
Na Grande Sussuarana
O Serginho é especial
Exemplo pra muita gente
É um cara genial
Faz da vida uma festa
É um cabra bem legal.
 
Alaíde é outro exemplo
A rainha do astral
Defende todo o bairro
Faz u’a luta magistral
Eta guerreira danada
Na batalha contra o mal.
 
Coordena sua casa
E dá aula na escola
Cuida dos filhos dos outros
Essa lindona senhora
Acolhendo a cada um
Não deixa ninguém de fora.
 
Brenda Gomes e Lissandra
Formam dupla da pesada
Tira foto, escreve texto
Em tudo ficam ligadas
Bastidores é com elas
E topam qualquer parada.
 
Joyce Melo é uma graça
Poetisa de valor
Seus textos são contundentes
Falam forte e com ardor
A poesia de Joyce
Tem sentimento e amor.
 
Adalmi e Leandro Mota
Forma dupla de poetas
Depois formaram um trio
Pra trupe ficar completa
Jocevaldo Santiago
Encontrou a porta aberta.
 
Verônica Soares quietinha
Mas faz boa poesia
De quebrada na favela
Seu texto é só alegria
Amizade é o tema dela
E também a fantasia.
 
Aqui não citei a todos
Mas digo de coração
Rainhas e Reis de verdade
Da nossa grande nação
Vivem aqui em nosso gueto
Ajudando a seu irmão.
 
Quem merece este título
É quem luta todo dia
Contra a discriminação
Na nossa linda Bahia
E que derruba o racismo
Seja de noite ou de dia.
 
A cada mano e mana
Da quebrada e do gueto
Seja loiro ou seja branco
Seja preta ou seja preto
Merece aplauso e louvor
Pra quebrar o preconceito.
 
Quem merece ser louvado
E receber atenção
É cada um dos nossos manos
Que luta por inclusão
Por justiça e por respeito
Pra cada nosso irmão.
 
Livros, livros a mão cheia
“A poesia cria asas” é lançado pela Galinha Pulando, com ilustração de capa feita por Zezé Olukemi. Quando a gente pensa que acabou, aparece uma surpresa. Sandro me chama no Facebook e eu dou uma risada. Pergunto logo, é trabalho, né? Ele se acaba sorrindo e acertamos. Eu vou fazer a correção ortográfica do livro mais lindo que já li. O Grupo Ágape lança o primeiro livro e eu tive o privilégio duplo de lê-lo em primeira mão e editá-lo. Presente de Deus. Livro pronto, vamos à gráfica pegar, entrega adiada mas o lançamento é marcado. Eu, lógico, o primeiro da fila, faço boa parte da cobertura fotográfica, e Lissandra Pedreira assume o papel que lhe pertence por direito. Festa espetacular, cada sorriso, cada pose, cada alegria, cada tudo, eu me inundo de felicidade vendo a vibração do grupo, as famílias deles participando... ah, lá vem de novo as lágrimas, o ardor na ponta do nariz, mesmo depois de quase um ano desse evento... Minha inveja dos abraços e afetos já não é tão grande mais, porque recebo tantos abraços e retribuições de sorrisos... William Silva, que sempre foi mais fechado comigo, conversa, pede pra ver as fotos no visor da câmara fotográfica... Eu me sinto, claro!
 
Nessa caminhada, já me aproximei de Zezé Olukemi faz um tempo e peço que ele ilustre a capa de meu livro “Poesias ao Vento. Vinte poemas de amor e uma crônica desesperada”. Desafio aceito, parceria iniciada. E o livro faz sucesso, pois energia do bem sempre traz bons resultados. Antes e durante a feitura das ilustrações eu encontro ele nas edições do Sarau Erótico, no Santo Antônio Além do Carmo. E a amizade se fortalece... a luta diária de cada um é que me fascina. Apesar de apostas contrárias da vida, os poetas, ilustradores, grafiteiros, tatuadores etc se esmeram no que fazem e vencem, palmo a palmo, as dificuldades. Sandro Sussuarana é um guerreiro que anda a pé da faculdade para o trabalho, acorda de madrugada, chega em casa tarde a noite, não cansa de correr, lutar, batalhar. Evanilson Alves, além de ótimo poeta e irmão de coração de quem ama a poesia, trabalha com jovens em situação de risco, dando um rumo e salvando almas. William Silva é tatuador, já fez dois trabalhos para meu filho que são de admirar. O que falar desses exemplos, dentre tantos outros como eles? Amo de coração, amo de verdade. Sinto falta, sinto saudade.
 
As oficinas do Boca de Brasa na Sussuarana, realizadas pela Fundação Gregório de Matos, foi a coroação de todo o trajeto da galera do bairro. Foram quatro dias de encontros para elaborar poemas e textos, projetos, música, teatro, dança e audiovisual. Participei da oficina de criação de textos, ministrada por Jorge Baptista Carrano. Ao meu lado, Gleise Sousa e Cristiano Sousa. Fizemos um poema em conjunto, além de outros individuais. O “Vem amar Sussuarana”, de nossa autoria tripla foi lido no palco de apresentações, com fundo musical criado por Nailon (oficina de música), aplaudido pela galera e virou uma espécie de hino ao amor incondicional. É o Grupo Ágape contagiando a outros poetas.
 
Vem amar Sussuarana

O meu bairro tem leveza
E gente bem humorada
Que acaba co’a tristeza
Tira alegria do nada

Tem poeta e poetisa
Música boa e dança
Pra ver um Novo Horizonte
Todo mundo vira onça

Tem sarau tem poesia
Poeta e poetisa
Quem mora em Sussuarana
Veste do bairro a camisa

Tem gente que acorda cedo
Pra no batente pegar
Faça sol ou faça chuva
Pra família sustentar

Quem mora na Nova ou na Velha
Tem motivo pra sorrir
Porque somos u’a família
E o amor nasceu aqui

A garotada do bairro
Não se diverte sozinha
O encontro é na mangueira
E também lá na pracinha

No sábado temos cultura
Para tudo se expressar
Cenpah Centro Cultural
Pra nossa arte mostrar

O meu bairro tem problemas
E não podemos negar
Não baixamos a cabeça
Nosso lema é superar

Se você ama justiça
Odeia gente leviana
Abrace meu povo querido
Vem amar Sussuarana

Salvador, 24 de abril de 2015

Cristiano Sousa
Gleise Sousa
Valdeck Almeida de Jesus
 
Salão do Livro e da Imprensa de Genebra – 2015. Pela terceira vez participo deste evento internacional e, dessa vez, levei o livro “Prêmio Galinha Pulando 2014”, com capa de Fábio Haendel e contracapa de Rosana Griloni, “Vinte poemas de amor”, de minha autoria, e “A poesia cria asas”, do Grupo Ágape, ambos com capa e ilustrações de Zezé Olukemi. Não deu pra quem quis, principalmente os livros do Ágape. Saíram matérias em vários blogs e sites, o sucesso dos meninos e meninas agora é no mundo de língua portuguesa, além dos limites do nosso país. E se esgotaram os exemplares levados. Para o lançamento de junho de 2015 no Fala Escritor, vai ser disputado cada exemplar. E por conta do processo de intercâmbio iniciado, o Varal do Brasil, através de sua diretora Jacqueline Aisenman, pretende lançar o livro do concurso literário do seu projeto dentro do Sarau da Onça, no segundo semestre de 2015. É a onça abraçando a Europa e vice-versa, numa via de mão dupla que só vai fortalecer a poesia brasileira em ambos os lados do Atlântico.
 
Invasão Literária em Escada. Na volta da Suíça vi o banner da Invasão Literária, que as bibliotecas comunitárias de Salvador estão realizando. Apesar do cansaço da viagem, vou a este evento, no dia seguinte à minha chegada. Logo de cara encontro Rodrigo Pita, da Biblioteca Comunitária do Calabar. Depois, a poeta e amiga Conceição Castro e Ladailza Teles, da Biblioteca Comunitária Paulo Freire, que estava recepcionando o pessoal para a caminhada. Em seguida, Simone Bispo e Lucas Yuri, Antônio Barreto (cordelista e professor). Na biblioteca, Sandro Sussuarana, Maiara Silva e Evanilson Alves. Foi festa total. Fiz logo várias fotos, participei apresentando Lucas Yuri para a criançada e depois declamei um poema com o Sarau da Onça/Grupo Ágape. Evanilson teve que sair mais cedo e, na volta pra casa, levei Sandro e Maiara de carona ao centro da cidade, no meio de um temporal que parecia não ter mais fim. Eles estavam na correria para a nova edição do “A poesia cria asas”...
 
Neste mês de maio de 2015, o Sarau da Onça comemora quatro anos de sarau... No dia 09 de maio eu iria lançar “Vinte poemas de amor” no Fala Escritor. Por obra do destino, houve um problema no teto da Livraria Saraiva do Shopping da Bahia, onde o projeto se apresenta e o lançamento foi adiado. Aproveitei para não me dividir. Fui inteiro a Sussuarana, participar do primeiro encontro do mês de aniversário. Antes de ler o poema “Vem amar Sussuarana”, feito a seis mãos com Gleise Sousa e Cristiano Sousa, durante o projeto Boca de Brasa de Sussuarana, fiz um resumo de como conheci a galera... o nervosismo foi grande. Se eu não estivesse nervoso, gaguejando em algumas vezes, eu teria chorado (risos). Foi mágico, pois hoje eu posso afirmar que conheço bem mais do coletivo e das pessoas que o compõe, me sinto em casa quando chego lá, acolhido por todos e todas, e acolho, também, a cada um e a cada uma...
 
Sarau da Onça - Quatro Anos de caminhada. Poesia é o seu nome. Resistência é seu sobrenome. Família, que agrega, congrega, acolhe e adota. O Sarau é de Sussuarana, como bem dito no aniversário. É de todos, representa e é representado. Plateia e Palco são sinônimos, pois o trabalho é coletivo e o resultado é dividido. Seja na Livraria Saraiva, Festa Literária de Lençóis, Bienal da Bahia, de São Paulo, na Suíça ou no meio da praça, o compromisso é o mesmo e a importância é a mesma. Família Onça, sempre unida, em prol da poesia. E o Grupo Ágape está casa, fazendo a poesia criar asas... êa!
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 31/05/2015
Alterado em 31/05/2015
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