Valdeck Almeida de Jesus
O poeta da verdade!
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GIBRAN SOUSA É ENTREVISTADO POR VALDECK ALMEIDA DE JESUS

Gibran Sousa é um poeta e músico que vem se destacando na cena artística baiana, por realizar shows dinâmicos, ousados, com performances inusitadas. Causando grande impacto e arrancando elogios, tanto da crítica quanto do público. Realiza recitais unindo a poesia sonora, concreta e imagista a diferentes expressões artísticas, desde o teatro até as artes plásticas. É considerado pelo cantor e escritor Jorge Mautner - e também por outros artistas - como o mais criativo e original poeta baiano da atualidade. Sua banda, integrada por ele e mais dois músicos, explora composições poéticas acompanhadas a efeitos de guitarra, texturas e percussão, num estilo único. Criou os espetáculos: Transmídia; Diversital; e Irritmia. Participou das Bienais do Livro da Bahia e do Rio de Janeiro, além de inúmeros festivais de cultura. Apresenta-se frequentemente em teatros, bares e faculdades. Formou-se em Farmácia pela UFBA, cursa Letras na UNEB, e abandonou Direito na UniJorge. Tem três livros de poesia, um de crônicas, mais um ensaio filosófico. Participa das publicações: Baianos Verbivocovisuais (2010); Coletânea Poética (2005); Sangue Novo (2011). Colabora com diversos sites pela rede. Entre esses: http://gibransou.blogspot.com seu blog pessoal.

VALDECK: Quando e onde nasceu?
GIBRAN: Nasci em Ruy Barbosa-BA, em meados da década de 80, porém, nunca morei lá. Sou soteropolitano. Nasci em outra cidade por um mero capricho hereditário do meu pai, muito comum em famílias tradicionais do interior, ou que se pretendiam assim. Fato que até hoje me causa um doce constrangimento, repleto de sobrenomes indecifráveis, legítimos: ao me entender estrangeiro da minha própria terra; por pertencer ao sangue que nunca acolhi além do afeto posto dentro dos mapas.

VALDECK: Já conhece o restante do Brasil? E outros países?
GIBRAN: Conheço diversos lugares. Aprecio os lugares feitos de lugares, com esferas de distâncias interpostas, desorganizadas, barulhentas, ameaçadoras. Entranhas estranhas. Sob o olhar nublado e aceso daqueles que pretendem demarcar seu território. Frente aos sotaques ou idiomas admoestados. Todo tipo de desconfiança me interessa. Viajo lascivo, sobretudo para regiões onde não tenho nenhum vínculo aparente, ou mesmo parente.

VALDECK: Como você começou a escrever? Por quê? Quando foi?
GIBRAN: Eu escrevia para cumprir obrigações e assim, cumpria a vida, comprimindo a mesma. Não havia um deslumbramento no ato, não me sentia total na página, de não a não. De-pois, não saberia precisar quando, percebi que o que me atraía era a invenção, o bratsk, o lapso. De modo que fiquei obcecado com todos os autores que se predispunham a expandir as possibilidades do texto, restabelecendo concatenações e/ou lançando novas perspectivas à sintaxe ortodoxa. E isso aconteceu, sobremaneira, quando descobri o Imagismo e o Vorticismo com suas exuberantes erratas sexuais. Desde então passei a provocar o exercício do anti-processo, assumindo em minha obra, seja ela escrita ou performática, características inerentes da pós-criação artística.

VALDECK: Você escreve ficção ou sobre a realidade? Suas obras são mais poesias ou prosa? O que mais você gosta de escrever? Quais os temas?
GIBRAN: Não tenho preferências objetivas pelo desejo de preencher os espaços. Costumo identificar circunstâncias estimulantes em meio à profusão de segmentos textuais, de todo modo, sou propício a incursões desatentas. O delírio deve ser cultivado como a um deus, visto que a demanda processual de construção nos assegura fins siameses, e, não posso conceber como arte alguém que se repete desde sempre. É incrível, mas a estúpida maioria dos poetas baianos, por exemplo, escrevem o mesmo poema há anos, explico: o que vejo na poesia baiana é a repetição histórica dos cânones, poetas que apenas continuam, e muito mal, o que já foi feito. E muitos ainda acreditam ter uma “marca”, não percebendo que essa “marca” é na verdade o seu registro de incompetência na arte de se reinventar. Falta ousadia. Carecemos de criadores.

VALDECK: Qual o compromisso que você tem com o leitor, ou você não pensa em quem vai ler seus textos quando está escrevendo?
GIBRAN: Um artista não pode ter nenhum tipo de compromisso com o leitor, nenhuns. Veja: Um compromisso, naturalmente, infere fidelidade, ou seja, precisão num acordo tacitamente registrado por uma ou ambas as partes. Mesmo que o compromisso do autor seja o mais benevolente possível, como o da verdade, do respeito, da imparcialidade etc., ainda assim, esse será uma guia escusa maneirista para interposição de sua obra. Pensemos: um artista deve passar por filtros? Não. Pois por mais que esses pareçam eticamente dignificantes para sua arte, acentuarão inadvertidamente propósitos alheios ao interesse do que está por ser. E tenho certeza que o aborto não é a melhor alternativa de escoamento no sítio da expressão.

VALDECK: O que mais gosta de escrever?
GIBRAN: Como disse anteriormente, não existe isso em mim, algo que me pareça mais apropriado ou satisfatório em detrimento das demais estruturas. No entanto, é no meu trabalho com a poesia onde me sinto mais abrangente, persuadido pela holística das descobertas, face aos escuros das representações ali presentes, na palavra. A revelação ressignifica o caminho desenhado. A epifania contida nos labirintos do verbo exulta em magnífico toda contemplação que tenho pelo poema.

VALDECK: Como nascem seus textos? De onde vem a inspiração? E você escreve em qualquer hora, em qualquer lugar ou tem um ritual, um ambiente?
GIBRAN: Do caos. Nunca é a palavra pela palavra, nem o som pelo som, nem o nem pelo nem. Há sempre um torque inicial, muitas vezes não identificado por mim de imediato, mas há. Está ali. Tudo que produzo parte de uma ideia disparada de ruminações exaustivas, pela contemporização agradável do exercício da tolerância dentre todas as informações que vão decantando e desencantando. Sugiro-me tudo. No entanto, sei que a essência é o corte, por isso não há excesso no fim, mas ao mesmo tempo ele se faz tão necessário durante os durantes.

VALDECK: Qual a obra predileta de sua autoria? Você lembra um trecho?
GIBRAN: Eu sou egóico, ególatra, egopata mesmo. Tenho uma tendência a ficar entusiasmado com o trabalho mais recente. Lambendo a cria. Distanciando-me do que fui. Compreendendo como aquilo se engendrou, numa reapoteose da dor. Sem nenhuma espécie de prejuízo hierárquico para com o diacronismo da criação. Parece insensato reiterar o tempo para o tempo, mas é como eu soube - dentre contextos - me existir naquele momento. Portanto, não me caibo em lógicas enumeradas, sequências correlatas, nem em valores improváveis, pelas sete portas do que eu sou.

VALDECK: Seus textos são escritos com facilidade ou você demora muito produzindo, reescrevendo?
GIBRAN: “A palavra destrói”. O exercício da escrita é árduo, os que dizem o contrário não escrevem, apenas espalham, irresponsavelmente, signos pretos pelos brancos bravios. A minha produção é lenta, diurética, plurifetal. Preciso - quase que invariavelmente - fazer laboratório sobre o que pretendo me deter. Suponho pouco sobre mim, assertivamente, no entanto, transcrevo a criação pela catarse sincopada. Eu escrevo para o silêncio. Nada está dito. Nada. Não sou um poeta instintivo.., e tenho aversão dos que acreditam ser,: alguém escrever assim como quem respira, sem esforço, sem crítica, sem caráter, isso é tolo, e conduz a uma escrita piegas/amadoramente ruim.

VALDECK: Qual foi a obra que demorou mais tempo a escrever? Por quê?
GIBRAN: Foi, sem dúvida, meu ensaio filosófico. Não saberia precisar quanto tempo, nem se o tempo cronológico foi mesmo tão extenso assim. O intervalo psicológico pelo qual se deu a escrita é que me manifestou bastante. Foram longos períodos reflexivos de questionamentos multiplicados em teorias, premissas, dísticos, aforismos, numa dialética exaustiva. Isso, porque sou hiperperspectivista, de modo que os platôs cognitivos já não me justificavam satisfatoriamente a condescendência dos achismos alheios.

VALDECK: Concluiu a faculdade? Pretende seguir carreira na literatura?
GIBRAN: Sim. Eu me formei em Farmácia pela UFBA, curso Letras na UNEB, e abandonei Direito na UniJorge. Agora na Pós-Graduação, e depois o depois. Eu gosto de estudar, é da minha natureza. Sou curioso. Precipito fácil. O meu desejo é seguir cada vez mais pelo universo que eu transito: a performance. Eu me identifico com o palco. Quero fazer os recitais que faço com mais ousadia, mas ao mesmo tempo com maior alcance. Existem bons cantores, bons poetas, bons escritores etc. Mas no momento de traduzir isso, in vivo, é uma vergonha. Enfim, faltam artistas de palco de qualidade. O atual mise-en-scéne está ultrapassado. Há pouquíssima novidade na simulação da poesia e literatura contemporâneas. Por isso, projetarei minha poesia e minha música ao(s) vivo(s).

VALDECK: Qual o escritor ou artista que mais admira e que tenha servido como fonte de inspiração ou motivação para seu trabalho?
GIBRAN: Ezra Pound, Gilles Deleuze, João Gilberto. Existem outros milhares que me influenciaram, talvez mais. Muitos conviveram comigo por anos, tantos nem tanto. Poucos que eu não quis, e me seduziram baixinho. Quantos que me chegaram ainda, antes que eu os suspeitasse. E a...lém. Agora, esses três caras aí, em nenhum momento eu pude deixar de me discipular. São guias de fé; amor de ciranda; benção de éter.

VALDECK: O que você acha imprescindível para um autor escrever bem?
GIBRAN: Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios. Vazios...

VALDECK: Você usa o nome verdadeiro nos textos, não gostaria de usar um pseudônimo?
GIBRAN: Pra quê? Houve situações históricas que o uso do pseudônimo era necessário, devido a perseguições políticas, liberdade editorial não balizada por antecedentes de registro, redimensionamento de interesses outrora acordados, dentre outros. Hoje, esses nãos estão enfraquecidos, e o papel do autor é assumir cada vez mais a responsabilidade por seu discurso, não mascarando seus medos ou interesses. Afora isso, há o demasiado uso lírico de pseudônimos, vencido, piegas, tolo. Nominação paralela desinteressante e cafona. Há que se lembrar, porém, dos heterônimos, esses sim, dignos de atenção quando bem construídos.

VALDECK: Como foi a tua infância?
GIBRAN: Vou responder essa pergunta com um link de outra entrevista minha - entre(entrevista)vista - onde a respondo de maneira curiosa. Leia aqui: http://culturalizados.blogspot.com/2010/09/gibran-sousa-o-poeta-baiano.html

VALDECK: Você é jovem, gasta mais tempo com diversão ou reserva um tempo para o trabalho artístico?
GIBRAN: Eu não tenho por hábito reservar tempo para nada, as coisas me vão acontecendo na medida em que acontecem. Os planos nos disciplinam enquanto nos empobrecem. A vida continua nos momentos de controle, organização, planejamento, que mesmo essenciais podem precaver o verdadeiro mistério da existência. A necessidade de reserva, de segurança, de chão, está transformando a sociedade num desumano anexo de projetos futuros. O impulso vital não pode esperar. Não compreendo tesão a longo prazo. Deus é o agora.

VALDECK: Tem um texto que te deu muito prazer ao ver publicado? Quando foi e onde?
GIBRAN: Sim, tenho um poema que estava inserido no meu recital Transmídia, ele exigia vários suportes estéticos, como lâmina, relevo, textura etc. E desse modo, eu não via possibilidade de viabilizar a publicação do mesmo em livro, sem que perdesse algumas das suas nuances mais interessantes. Em meados de 2010 fui convidado para participar de uma coletânea que viria a se chamar Baianos Verbivocovisuais, quando propus ao editor a inclusão desse poema, que foi imediatamente aceito, apesar da ampla dificuldade que tivemos na diagramação.

VALDECK: Você tem outra atividade, além de escritor?
GIBRAN: Sim, além de poeta e músico de vocação, em que realizo recitais e shows multialegóricos, eu sou - com muita convicção - um profissional das drogas. Estudei Farmácia na UFBA, e comecei a exercer minha profissão antes mesmo da minha formatura. Mas não atuo apenas como um traficante legalizado, também curso Letras na UNEB, sou professor de um curso pré-vestibular etc.

VALDECK: Você se preocupa em passar alguma mensagem através dos textos que cria? Qual?
GIBRAN: Dentre todas, talvez essa seja minha menor preocupação. Principalmente por ser um defensor da política do ready-made, no íntimo das suas implicações mais severas, relativizadas pelas estruturas estabelecidas nas dobras seculares, do fazer o feito. A mensagem será transmitida, queiramos ou não, o ponto aqui é o quanto ser inteligível, o quanto podemos induzir o público por uma obra aberta. Contudo, pretendo levar às últimas consequências todos os rizomas de significantes subutilizados na esfera do apêndice popular.

VALDECK: Qual sua Religião?
GIBRAN: Ateu praticante.

VALDECK: Quais seus planos como escritor?
GIBRAN: Escrever...

(*) Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta e editor, jornalista formado pela Faculdade da Cidade do Salvador. Autor do livro “Memorial do Inferno: A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, já traduzido para o inglês. Seus trabalhos são divulgados no site www.galinhapulando.com
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 11/01/2012
Alterado em 11/01/2012
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